Rodrigo Wolff Apolloni
Ciência é um negócio sensacional. Acabo de ler que pesquisadores da cidade holandesa de Maastrich estão avançando na criação de “bifes de proveta” produzidos a partir de umas poucas células bovinas replicadas até assumirem dimensões admissíveis em um costelão 24 horas. Até o momento, dizem os pesquisadores, o experimento produziu alguns nacos de tecido fibroso branco e pouco inspirador. Eles acreditam, porém, que em breve estarão produzindo peças suficientemente suculentas para chamar a atenção dos carnívoros.A ideia, afirmam, nasceu da percepção de que, caso a estima pela carne bovina produzida segundo os métodos tradicionais continue crescendo, teremos sérios problemas. Se pensarmos que, atualmente, um terço da produção de cereais vai parar no estômago dos bichos, que eles arrotam uma vez a cada 40 segundos (o que, ao final de um dia, produz 250 litros do venenoso gás metano por animal) e que o rebanho atual é de 1 bilhão de cabeças, podemos inferir o estrago. Isso sem contar os problemas ambientais e sociais gerados, em muitas partes do mundo, pelo sistema de criação extensiva.
Outra vantagem diz respeito ao armazenamento. No futuro, quando a humanidade se lançar ao espaço, será possível dispor de um suprimento suficiente do produto sem ser preciso abarrotar os porões da nave de carne seca ou converter tudo naquelas insípidas “bisnagas” que, em nossos dias, desestimulam o espírito gourmet no espaço sideral. E não só de postas bovinas: no momento, pesquisadores americanos seguem a mesma linha de pesquisa usando células de peixes e perus. Em uma palavra: gostoso.
Mais do que tudo, porém, o que me chama a atenção são as possíveis respostas dos vegetarianos aos tais bifes. Isso porque, em geral, a inspiração dos adeptos do vegetarianismo se baseia na compaixão. Eu mesmo, vegetariano de longa data, sigo esse princípio.
Agora, e se o fornecimento de carne não estiver ligado ao sacrifício dos animais, seu consumo seria eticamente aceitável? Pessoalmente, acho que sim, ainda que não me sinta especialmente tentado a voltar às chuletas. Coisa de hábito, mesmo. Essa resposta, evidentemente, não encerra a questão – até porque, para cada vegetariano sossegado, existem dez carnívoros que dizem na sua cara “Vegetal também é ser vivo!” e 20 vegetarianos que se ofendem quando são convidados a comer um pedaço de pudim de leite.
Tenho certeza apenas de que, no futuro, resultados de pesquisa como o dos “bifes de proveta” hão de modificar ainda mais nossos hábitos. E – coisa típica da pós-modernidade – gerar um número ainda maior de perfis de comportamento.
Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo
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