terça-feira, 8 de novembro de 2011

Vimana

Rodrigo Wolff Apolloni para a Gazeta do Povo
“Vimana”: taí uma palavra que sempre curti. Origi­nal­mente, ela aparece nos Vedas, os antiquíssimos clássicos religiosos do Hinduís­mo, e dá nome às máquinas voadoras que participavam de incríveis batalhas celestiais entre deuses, demônios e heróis. Aparen­temente, o estranho interesse pelo termo surgiu ainda em minha infância, período em que a ufologia era realmente um grande barato, uma novidade, e seus acólitos curitibanos (dentre os quais, um guri de uns 9 anos que um dia seria jornalista) se reuniam na Biblioteca Pública do Paraná ou no auditório da Ordem Rosacruz. Nesses ambientes, em meio a palestras sobre a morfologia dos alienígenas (básico) e sessões de troca de fanzines e exemplares da revista Pla­neta, eles afirmavam que os tais vimanas – aparelhos capazes, por exemplo, de voar e mergulhar nos oceanos, ou, então, de transportar palácios gigantescos pelos céus – eram discos voadores.



Em minha cabeça, portanto, vimana passou a sintetizar essas primeiras inferências românticas relacionadas ao fantástico, anteriores a qualquer dado ou imagem dos livros ou do cinema de ficção científica. Coisa, mesmo, de sonho. Quem, afinal, não gostaria de ver uma máquina dessas cruzando os céus e mostrando que há algo além das coisas de todos os dias?

Resta saber por que fui trazer as tais naves hindus à crônica justo nesta terça-feira. Não é sempre, afinal, que a gente tem a oportunidade de olhar para os céus ou para dentro em busca de exóticas imagens da infância, ou de largar um “Vimana!” em um bate-papo. A explicação nem é tão extraordinária: no domingo, ao almoçar em um restaurante vegetariano – último traço da Nova Era em meu espírito –, encontrei sobre a mesa um libreto do próximo congresso curitibano de ufologia, que, em alguns dias, deve reunir aficionados por alienígenas em um hotel da cidade. No encontro de 2011, descubro, as discussões incluem temas relacionados à espiritualidade e até mesmo ao cruzamento entre espiritualidade e alienígenas. O que mostra o quanto as discussões mudaram desde aqueles heroicos encontros na Biblioteca Pública, quando a meta era provar, nos termos da ciência dura, que os marcianos realmente existiam.


O mais legal, porém, é perceber que ainda há pessoas ligadas aos temas que fizeram com que “vimana” se tornasse uma chave de minhas fantasias de epifania. Esdrúxulos sonhadores ou, sabe-se lá, os únicos capazes de lidar com a “estranha realidade” de que, em outros tempos, falava Carlos Castañeda.

Nenhum comentário: