Eurico Schwinden
Morre um jovem. Tinha apenas 22 anos.Seu carro bateu em um poste e de nós o arrebatou para sempre. O Correio Braziliense em sua versão online publica a história sem muitos detalhes. Mas isso não é suficiente. A informação não está picante como convém ao espírito do editor Paulo Rossi, um desses cretinos fundamentais do mundo cibernético.Ele quer ouvir a “opinião” dos leitores sobre esta morte. “A internet é democrática”,justifica ele, agora travestido de diretor de consciência da grande rede. O resultado não poderia ser mais satisfatório para o espírito da notícia como mercadoria. A nota jornalística é, afinal, comentada por todo o tipo de delinqüente moral, que se esconde no anonimato para expor sua alma emporcalhada por traumas,ressentimentos, frustrações, pustemas psíquicas.
Algo bem “democrático” na filosofia de botequim do tal cyberjornalista.
O jovem morto era portador de diabetes Mellitus.Chegara em casa por volta de cinco da manhã, em carona com amigos. E, como o fizera tantas vezes, pegou seu carro para ir à padaria a menos de 1,500 m da sua casa. Como se sabe o diabetes produz quedas e subidas de glicose capazes de levar ao desmaio e até ao coma. Foi o que um amigo viu ao seguir seu carro. Subitamente o carro arrancou em linha reta até atingir um poste de cimento, que o matou. Nenhum movimento defensivo no volante, nenhuma marca de freio no asfalto. A noite na balada,sem ingestão de proteína, cobrou seu preço na forma de uma súbita fome, na perda da consciência e, na morte.
Mas que fossem outras as circunstâncias de sua morte. Que este jovem tivesse antecedentes de má conduta social ou mesmo, que fosse um beberrão e, naturalmente um tolo por tentar conciliar bebida e diabetes, que deliberadamente estivesse a 150km/h numa pista que não permitia mais do que 70km/h, sua morte deveria ser aberta a um painel de debates, onde o único filtro, segundo o tal editor, são palavras de “baixo calão”. Esse é o tipo de argumento que dará razão aos jovens que tocaram fogo em um cacique e, quando descobriam que seu crime coincidia com o dia do índio, se explicaram cristalinamente: Nós pensamos que era só um mendigo.
Luis Fernando não era apenas um filho, irmão, namorado, amigo, sobrinho,neto... Enfim,o primeiro neto de sua avó. Era uma das melhores pessoas que conhecemos, nós que convivemos com ele tão pouco, mas que nos marcou tanto, que nos fez mais serenos e melhores. Agora isso importa apenas para nós que tivemos este privilégio. Será muito forte a dor para seus pais, o irmão e sua namorada, que terá dele não só o amor que os uniu, mas a sensação de ter perdido um anjo da guarda. Para uns a dor será menos intensa, porque aliviada por um sentimento de leveza e até de orgulho pela passagem de Luiz Fernando por tantas vidas.
Importa agora que o “democrático” debate que se travou em torno da notícia da sua morte, nos preencha com uma ira santa contra esse tipo de hipocrisia, que afaga a bestialidade, a morbidez, o escárnio com o próximo, a mesquinhez humana. Paulo Rossi e seus patrões podem até não se importar, já que são tão “democráticos”. Mas carregarão mesmo que seja na vesga consciência que os orienta, o julgamento infame que promoveram em torno da morte de um jovem que nem de longe poderia ser seu filho. Para eles apenas um jovem mais morto, assassinado pela segunda vez sob a ótica da estupidez, que eles chamam de jornalismo ou democracia cibernética.
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