O cubano Leonardo Padura conversa com o público na terça-feira (13) Foto:Ivan Giménez |
Seguindo a proposta original de refletir as questões contemporâneas sob diferentes óticas, o Litercultura - Festival Literário 2019 chega a sua sétima edição 16 de agosto, na Capela Santa Maria. Face ao aumento sem precedentes no número de refugiados em todo o mundo e todas as questões políticas, sociais e humanas envolvidas, o festival deste ano propõe como tema “fronteiras”, reunindo literatura feita em diversos países e contextos. Além dos cinco painéis com autores de quatro nacionalidades, o evento estende sua dinâmica para uma programação integrada relativa ao tema, que inicia todos os dias às 18 horas com venda de livros, gastronomia étnica e apresentações de música, poesia, performance e mostra de cinema.
Patrícia Campos Mello abre o Festival nesta segunda-feira (12) |
Para compor um mosaico possível da literatura contemporânea diante das questões que surgem com o atual movimento de imigração, foram convidados a escritora e jornalista atuante na editoria internacional Patrícia Campos Mello; o escritor colombiano Juan Cárdenas; o romancista brasileiro Bernardo Carvalho; o roteirista e escritor cubano Leonardo Padura e a escritora e jornalista italiana, de família de imigrantes somali, Igiaba Scego. Expoentes da palavra que se apresentarão no palco principal da Capela Santa Maria a partir das 20 horas.
Este ano, a organização do Litercultura modificou a distribuição dos ingressos gratuitos que dão acesso à sala dos painéis. A bilheteria será aberta no dia de cada conferência, a partir das 17h30 horas. Essa mudança se deve à tentativa de permitir que mais pessoas interessadas possam ter acesso às apresentações.
Dinâmica e livro
Com curadoria do jornalista e crítico Manuel da Costa Pinto e direção-geral de Manoela Leão (Gusto Produção Cultural), o Litercultura 2019 mantém o firme propósito de refletir temas contemporâneos tanto na literatura quanto na cultura de modo mais amplo. “Fronteiras é um tema muito extenso que vai desde as questões geopolíticas atuais até as mais pessoais e simbólicas - humanas, psicológicas, emocionais etc. A nossa ideia não é esgotar o assunto e sim contribuir para a formação de uma consciência coletiva e, claro, pessoal, que inclui empatia, pensamento crítico, analítico e solidariedade”, afirma Manoela Leão, uma das idealizadoras do festival.
Os autores falarão ao público a partir de um texto autoral produzido por eles, por meio do qual discutirão seus pontos de vista específicos sobre o tema das fronteiras. Todos os textos, de formatos diversos – ensaio, depoimento, texto ficcional – serão reunidos em livro, a ser publicado pela Editora Dublinense ainda em 2019. As conferências serão mediadas por jornalistas e professores de reconhecida inserção no tema e na obra dos autores.
Já a programação integrada é a oportunidade de o público ter contato com outras manifestações artísticas que provocam, instigam e ajudam a refletir sobre as diferenças culturais, muitas surgidas em decorrência do refúgio, como o Trio Alma Síria, cujos integrantes vieram de Alepo e as leituras dos integrantes do Programa Política Migratória e Universidade Brasileira da UFPR. O gran finale desta programação fica por conta do já consagrado e provocador André Abujamra, que nos lembra, com sua música, que “Alma não tem cor”.
Os autores (conferências realizadas sempre às 20 horas)
- 12/8: Patrícia Campos Mello (Brasil): É formada em jornalismo pela USP e mestre em Business and Economic Reporting pela New York University. Foi correspondente em Washington do jornal O Estado de S. Paulo e atualmente é repórter especial e colunista da Folha de S. Paulo. É autora de Lua de Mel em Kobane e vencedora de diversos prêmios jornalísticos, entre eles o Prêmio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha, em 2018. Lua de mel em Kobane “conta a improvável história de um casal de sírios que, separados por 2,5 mil quilômetros, se apaixonou pela internet e arriscou a vida ao decidir se instalar na cidade de Kobane, sitiada pelo Estado Islâmico” (Companhia das Letras). - A mediação é de Christian Schwartz.
- 13/8: Leonardo Padura (Cuba): Nascido em Havana, Leonardo Padura é pós-graduado em Literatura Hispano-Americana, romancista, ensaísta, jornalista e autor de roteiros para cinema. Ganhou reconhecimento internacional com a série de romances policiais Estações Havana. É colunista da Folha de S. Paulo e colaborador do El País. Tem nove livros traduzidos no Brasil, com destaque para O homem que amava os cachorros, obra em que o autor narra a história do assassinato do líder soviético Leon Trótski, valendo-se para isso de três narradores, entre eles assassinado e assassino. Padura é autor premiado internacionalmente – Prêmio Nacional de Literatura de Cuba e o Princesa de Asturias. A mediação é de Mariana Sanchez.
- 14/8: Bernardo Carvalho (Brasil): Um dos mais destacados romancistas da literatura brasileira atual, o escritor nasceu no Rio de Janeiro e vive atualmente em São Paulo. Autor de mais de dez obras, recebeu diversos prêmios entre os mais importantes da literatura em língua portuguesa, como o Jabuti, APCA e Portugal Telecom. O filho da mãe, romance de 2009, por exemplo, narra a trajetória de muitas mulheres, mães, que buscam “livrar seus filhos da guerra, da solidão e do crime” (Companhia das Letras). Os personagens transitam por vários espaços do globo, do Oiapoque ao Nieva, de Grozni ao mar do Japão. São filhos extraviados de mães aflitas e pais autoritários ou ausentes. A mediação é de Manuel da Costa Pinto.
- 15/8: Juan Cárdenas (Colômbia): Juan Sebastián Cárdenas nasceu em Popayán, na Colômbia. É tradutor e escritor, ainda sem tradução no Brasil, premiado em 2014 por sua obra Los estratos (prêmio Otras Voces, Otros Ámbitos). Sua obra mais recente, El diablo de las províncias, “volta a questionar os mantras de uma civilização homogeneizada em uma novela que trabalha com gêneros híbridos”. A obra de Cárdenas põe em evidência “o colonialismo e o racismo, todas as selvagens domesticações privadas e públicas, que constituem preocupações importantíssimas para a interpretação da cultura” (Marta Sanz, para El País). A mediação é de Isabel Jasinski.
- 16/8: Igiaba Scego (Itália): “Igiaba Scego nasceu em Roma em 1974, de família de origem somali. Depois de se formar em literatura estrangeira na Universidade La Sapienza, em Roma, escolheu trabalhar como jornalista e escritora, colaborando com jornais como Il Manifesto e Internazionale, e também com revistas que lidam com assuntos muito próximos dela: imigração e cultura africana. Como autora, ganhou vários prêmios e participou de inúmeros eventos, incluindo o Festival de Literatura de Mântua, que a hospedou em 2006” (Editora Nós). No Brasil, temos Minha casa é onde estou e Caminhando contra o vento. A mediação será de Maria Célia Martirani.
Programação integrada (a partir das 18 horas):
- 12/8: Trio Alma Síria - composto por Myria, Abed e Lucia, imigrantes vindos de Alepo, a maior cidade da Síria, o Trio traz ao Litercultura a música e o canto árabes de seu país.
- 13/8: Cinema - mostra de curtas-metragens:
“Desculpe, me afoguei” – 6’35” (Líbano, 2017 – Direção: Hussein Nakhal, David Habchy). Curta de animação a partir de uma carta que teria sido encontrada junto ao corpo de uma refugiada síria que morreu afogada no mar Mediterrâneo em 2015.
“Crónicas de extrangería” – 26’ (Brasil-Espanha, 2010 – Direção: Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques). A situação do imigrante na capital espanhola sob o ponto de vista de um cronista estrangeiro.
“Janelas para o mundo” – 19’ (Brasil, 2008 – Direção: Sidney Schroeder). Uma viagem pelo comércio da Saara, na cidade do Rio de Janeiro, que desvenda ricas histórias de luta e sobrevivência de imigrantes dos mais diversos lugares do mundo e fizeram deste centro comercial um patrimônio cultural e um exemplo de convivência pacífica.
- 14/8: Nosso amor de trincheira, nosso trânsito de fronteira: poemas da poeta e tradutora alemã Uljana Wolf, que explora o limiar multilinguístico em seu trabalho de criação. Leituras de Guilherme Gontijo Flores e Ricardo Pozzo.
- 15/8: Literatura de refúgio e música venezuelana: na primeira parte da mostra, poemas de várias nacionalidades lidos por alunos migrantes e refugiados da UFPR que fazem parte do Programa Política Migratória e Universidade Brasileira (UFPR). Na segunda parte, música venezuelana com Ninoska Poletta (voz) e Andres Machado (violão).
- 16/8: Show com André Abujamra | As 9 faces do Sr. Abu: uma viagem musical pelo mundo de influências criativamente retrabalhadas na carreira desse que é um dos maiores artistas brasileiros. Nunca é demais lembrar: “Alma não tem cor”. Essa e outras grandes composições, das já clássicas “O Mundo”, “Imaginação”, “Duvião” até as mais recentes como “O Mar” e “Real Grandeza”, do último disco solo Omindá. E mais: uma versão acústica do novo hit do Turk, “Dois chás para o duzentos e vinte e dois”. Tudo no palco do Litercultura.
Serviço:
Litercultura 2019
Data: De 12 a 16 de agosto
Local: Capela Santa Maria - R. Conselheiro Laurindo, 273 Centro – Curitiba
Abertura a partir das 18 horas para a programação integrada. As conferências acontecem às 20 horas e os ingressos gratuitos podem ser retirados no mesmo dia, a partir das 18 horas.
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