Trabalho em grafite da série Além da superfície traz desenhos de paisagens em janelas e já ganhou reconhecimento nacional
Restam pouco mais de duas semanas para o público apreciar a exposição Meu cuidado todo, no Paço Imperial, Rio de Janeiro. A mostra, que está em cartaz desde abril, reúne trabalhos dos paranaenses Cleverson Oliveira, Fernando Burjato e Gabriele Gomes, artistas que conviveram juntos na Escola de Música e Belas Artes do Paraná no início dos anos 1990. A partir daí, desenvolveram trabalhos que apontam direções próprias, embora mantenham pontos de confluência. Esse diálogo já rendeu outras exposições do trio como “A Fala”, em 1994; Colapso, no Museu Oscar Niemeyer, em 2015; e Mundo Físico, na Galeria Virgílio, em 2017.
Meu cuidado todo apresenta o trabalho atual dos artistas, primeiramente de forma coletiva e, depois, em salas individuais. Destaque, aí, para o trabalho de Oliveira em grafite na série Além da superfície, que traz desenhos de paisagens em janelas que podem ser vistas de dentro para fora, que já ganhou reconhecimento nacional. A tela “molhada” por gotas de chuva já se tornou uma marca e uma espécie de convite para ver e pensar como se forma a ideia de paisagem.
A “umidade” presente nas obras remete também ao bucolismo de sua terra natal, Curitiba, ou da cidade que escolheu para morar e criar, Piraquara, no pé da Serra do Mar – ambas extremamente úmidas e nas quais mesmo o mês mais seco do ano tem uma grande pluviosidade. Afinal, que curitibano nunca passou um interminável dia chuvoso a contemplar a paisagem fria pela janela, distorcida pelas gotas d’água?
Cleverson conta um pouco sobre essa técnica e sua carreira:
– O realismo das suas obras faz com que o espectador por vezes as confunda com fotografias. Existe uma conexão ou inspiração entre sua arte e a fotografia?
– Sim, há uma conexão muito intensa até porque eu venho do campo da fotografia e os meus trabalhos refletem isso. Mas, mais do que uma imitação ou uma tentativa de reproduzir uma imagem fotográfica, as gotas criam uma terceira instância: aí a gente pode colocá-la como desenho, fotografia pintura… Se eu fosse simplesmente reproduzir uma imagem fotográfica eu estaria seguindo uma espécie de receita modernista, mas meu trabalho é pós-modernista.
– Se muitos realistas clássicos representam figuras humanas ou a natureza, você se notabiliza por uma outra linha. Por quê janelas e gotículas? Como começou a trabalhar nessa série?
– Essa série das gotas, chamada Além da superfície, surgiu de uma insistência em ficar dentro do estúdio, tentando criar uma situação que também tinha a ver com fotografia e cinema, e em algum momento a minha percepção chegou à imitação dessa imagem fotográfica. Eu não acho que seja realismo, porque as gotas são feitas quase como um cartum – e não exatamente como uma gota real. E o fundo é fora de foco. Então você tem duas receitas nem um pouco fotográficas nem realistas, mas a combinação delas acaba por ter esse resultado – quase como duas imagens ao mesmo tempo: o seu olho consegue focar ou nas gotas, ou no fundo.
– Planos futuros?
– Considero o futuro algo instável. Meu único plano é continuar dentro do estúdio, dando prosseguimento a essa pesquisa e a parcerias que me possibilitem mostrar meu trabalho. Mas tem também uma experiência de educação ambiental misturada com arte, que é a #experienciamerzbausubtropical – um trabalho da nossa comunidade do Morro do Canal, na Serra do Mar, por meio da qual várias situações e relações de arte são feitas por pessoas que saíram da cidade e foram viver lá. É sobre essa relação do homem que saiu da cidade e resolveu se afastar – algo que parece ser fácil, mas é utópico. Esse é um dos meus planos para o futuro.
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SERVIÇO
Meu cuidado todo
Paço Imperial – Sala do Trono – 1º Andar
Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro
Até 7 de julho
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