segunda-feira, 25 de março de 2019

Exposição homenageia a crítica de arte Adalice Araújo

Mostra tem curadoria e pesquisa do MAC-PR e será inaugurada no hall da SEEC, no dia 30 de março
Marcelo Elias
A sala de casa lotada de documentos, a seriedade com a qual levava o seu trabalho e a generosidade com os artistas são algumas das lembranças recorrentes de quem conviveu com a crítica de arte, professora, pesquisadora, historiadora e poeta Adalice Araújo (1931-2012), considerada o principal nome na análise da arte paranaense. Em homenagem à sua trajetória, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) e a Secretaria de Estado da Cultura (SEEC) apresentam a exposição "História sem fim: o pensamento revolucionário de Adalice Araújo", que será inaugurada dia 30 (sábado), às 11 horas, no hall da SEEC.

Com a mostra, que tem curadoria da diretora do MAC-PR, Ana Rocha, e pesquisa do Setor de Pesquisa e Documentação, o museu inicia as celebrações aos seus 50 anos, comemorados em março de 2020. A instituição lança ainda a sua nova logo, outra ação comemorativa rumo ao seu meio século de arte.

A exposição também encerra a programação do Mês das Mulheres promovida pela SEEC ao longo de março, com atrações que reforçaram a importância e o talento de artistas mulheres em diferentes segmentos artísticos.

O evento marcará a abertura da sala homônima à crítica de arte, administrada pelo MAC-PR e pela Coordenação do Sistema Estadual de Museus (COSEM). A Sala Adalice Araújo será dedicada exclusivamente a artistas paranaenses.

A mostra
"História sem fim: o pensamento revolucionário de Adalice Araújo" retrata parte da trajetória da artista e pesquisadora apresentando o seu trabalho crítico jornalístico (iniciado em 1969, no Diário do Paraná, com a coluna Artes Visuais — publicada também em parte dos anos 1970 e 1990 na Gazeta do Povo) por meio de obras de mulheres artistas que estão no acervo do MAC-PR, e sobre as quais Adalice escreveu. São elas: Eliane Prolik, Guita Soifer, Dulce Osinski, Juliane Fuganti, Leila Pugnaloni, Letícia Marquez e Ida Hannemann de Campos (falecida no começo de março).

Cronologia, fotografias de Adalice, sua atuação como diretora do MAC-PR (entre 1987 e 1988), um compilado de suas críticas em jornais (publicadas entre 1968 e 1994) e informações sobre a elaboração de sua obra máxima, o Dicionário das Artes Plásticas do Paraná, também farão parte da mostra.

Os visitantes poderão entender ainda mais o universo de Adalice na Praça de Leitura — um espaço no hall da SEEC terá vários textos impressos para que os espectadores possam fazer as leituras tranquilamente. A curadora Ana Rocha também fez questão de incluir textos de Adalice sobre outros temas, como literatura, patrimônio e arquitetura. "A ideia é mostrar a amplitude de sua atuação como crítica", salienta.

Descentralização da arte

Ana Rocha frisa que Adalice fez um "esforço hercúleo" para descentralizar a produção artística — a crítica valorizou e deu espaço aos artistas que, em alguma medida, se sentiam excluídos por estarem fora do  eixo Rio-São Paulo. Esse papel também é relembrado por Juliane Fuganti. "A gente deve muito a ela como uma incentivadora ao Paraná."

Juliane conheceu Adalice cedo, logo na primeira exposição que realizou, aos 19 anos. Começou a estudar gravura, ganhou prêmios no Salão Paranaense (do qual Adalice era jurada) e foi incentivada por ela a buscar formação na Belas Artes (Juliana havia estudado Economia). "Ela sempre via o que você tinha de bom. Fazia uma crítica construtiva aos artistas", diz Juliane, que também se impressionava com a documentação que a crítica mantinha em seu apartamento. "Era um setor de pesquisa melhor do que muitos lugares, a sala inteira era tomada por arquivos".

 A artista Leila Pugnaloni rememora que, no início dos anos 1980, a expectativa máxima dos artistas no Paraná era ter um texto escrito por Adalice sobre a sua obra. "Ela era a pessoa que fazia as melhores análises. Quando ela ia a uma exposição, eu e os outros artistas ficávamos na expectativa."

Vida e obra

Nascida em Ponta Grossa em uma família de ervateiros, Adalice Araújo iniciou a sua formação artística nos anos 1950, no curso superior de Pintura da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). Logo na sequência, seguiu para uma especialização na Itália. De volta ao Brasil, criou e presidiu o Círculo de Artes Plásticas do Paraná, com ateliê coletivo no subsolo da Biblioteca Pública do Paraná, onde começaram artistas como Helena Wong e Antonio Arney.

Na década seguinte, estudou outras técnicas, como Gravura, Xilogravura, Desenho e Crítica Teatral. Em 1969, iniciou sua carreira jornalística no Diário do Paraná com a coluna Artes Visuais, também publicada no jornal Gazeta do Povo entre 1974-1976 e 1978-1994. Em 1971, passou a integrar a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).

Foi professora no departamento de Filosofia, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dirigiu o MAC-PR entre 1987 e 1988 e desenvolveu projeto de descentralização do 44º Salão Paranaense. Em 2003, recebeu o Prêmio Mário de Andrade da ABCA e, em 2006, publicou o Volume 1 do Dicionário das Artes Plásticas do Paraná (verbetes de A e C) — o segundo, de D a K, foi publicado postumamente. Faleceu em 8 de outubro de 2012, em Curitiba.

 Serviço:

Abertura da exposição “História sem fim: O pensamento revolucionário de Adalice Araújo”

Dia 30 de março (sábado), às 11h.


Período expositivo: até 1º de junho de 2019.

Entrada gratuita.

Hall da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC)

Rua Ébano Pereira, 240, centro.

Visitação: de segunda a sexta-feira das 9h às 12h. Sábados, das 9h às 13h.

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