terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma boa história fantástica

Texto de Rodrigo Wolff Apolloni para a Gazeta do Povo


199... foi o ano de minha primeira participação, como jornalista, em uma emissora de rádio. Recebendo um “cachê simbólico”, atuava em um programa de debates na Rádio Clube Paranaense que acontecia aos sábados pela manhã. Era apresentado como “O Navegador da Internet” (pode rir: naquela época, essa era uma posição digna do maior respeito), personagem responsável por garimpar fatos interessantes (por meio de uma conexão discada) para temperar o programa.

Pois um dos debates foi realizado em um momento, veja só, em que pessoas diziam ter avistado o “chupa-cabras” em Campina Grande do Sul. O tema daquele sábado, portanto, não podia ser outro. Celeuma total. Diante da agitação daqueles dias, até a prefeitura de Curitiba foi acionada: veterinários do Zoo garantiram que as marcas encontradas em animais de criação não haviam sido produzidas pela criatura fantástica, mas por cães “semidomésticos”. Como andavam soltos pelos campos, os bichos acabavam readquirindo hábitos selvagens e, vez por outra, mordiscavam um carneiro ou galinha. Explicação das mais prováveis.

Ainda assim, naquele programa pude testemunhar algo interessante. Fora do ar, em um dos intervalos, um dos participantes relatou seu contato com o “chupa”; segundo ele, em uma noite de lua, ao voltar para casa por uma estrada rural, observara uma criatura incomum saltando sobre uma fileira de caquizeiros. Ele parara para ver melhor quando, subitamente, a cara horrenda do bicho surgiu de uma moita, abriu a bocarra junto ao seu rosto (ao contar isso, juntou as mãos em concha e as abriu, para mostrar o tamanho da boca) e emitiu um grito. Em seguida, sumiu por entre as folhas.

A história soaria apenas fantasiosa, não fosse por um detalhe: ao contar o caso, o participante começou a chorar... de puro terror. Fiquei (e todos no estúdio) com os cabelos em pé. Até hoje, não sei bem a que atribuir aquele choro. A única resposta racional é de que se tratou de um engano monumental; o medo, porém, era verdadeiro.
Transcorridos quase vinte anos – período em que o mito do “chupa-cabras” foi mordido e esvaziado de seu poder pela mídia –, seria interessante saber como a tal testemunha revisitaria a própria história. Independentemente da resposta, devo confessar: com choro, caquis, rádio e internet, aquela se converteu, para mim, em uma grande história!

Um comentário:

Michelle Gutmann Hesketh disse...

Me lembro dessa história e morria de medo desse bicho!