terça-feira, 18 de março de 2008

Dois coelhos e duas cajadadas - Por Wagner Mafuzo

Desde que se firmara como ator, no Rio de Janeiro, havia anos que Maurício não visitava sua mãe, em Curitiba. Na Páscoa, contudo, resolveu surpreendê-la. Embora a ela desagradassem manifestações ruidosas, ele não interrompeu sua veia artística e decidiu “matá-la de vergonha, ou melhor, de admiração”. Afinal, tinha que seguir seu instinto e, sobretudo, precisava nutrir sua vaidade com elogios e mimos. Em frente à sua antiga casa, protegido pelo muro, vestiu-se de coelho e empunhou a cesta transbordante de papéis reluzentes. Exultante, encostou-se na porta, aguardando o melhor momento. Já vislumbrava os sorrisos, as felicitações. Respirou fundo, girou a maçaneta, escancarou a porta e gritou de olhos fechados: “feliz Páscoa”! Porém, ao abri-los, estacou no segundo passo, quando se deparou com rostos pálidos, amigos enlutados e, no centro da sala, um robusto caixão. Graças a Deus, sua mãe estava rezando ao lado dele. Mas, curioso, o morto ali estava porque fora atropelado por um caminhão pintado de coelho que corria desenfreadamente para repor os últimos ovos do feriado.

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