sexta-feira, 30 de março de 2012

My own personal urban legend - O Fantasma cagão



Texto: Rodrigo Wollf Apolloni
Fotografia: Rafael Dabul

A internet e a tevê a cabo vulgarizaram o que havia de mais secreto e misterioso na vida das cidades. Hoje, ouvir falar em “lenda urbana” remete, quase que invariavelmente, a documentários chinfrins e filmes gore inapreensíveis por pessoas com mais de uma sinapse. Nesta reportagem, decidimos (depois de examinar a questão por dentro e de perto) tratar seriamente do assunto. Partimos da verdade crua: existem coisas estranhas e pessoas que as testemunharam.

Nós as levamos a sério e elas perceberam isso – tanto, que decidiram contar o que vivenciaram, sem rodeios. Depois de ler os testemunhos abaixo, você certamente não ficará mais insensível diante de certas situações.

O tema é tão espinhoso que o primeiro a dar um depoimento deveria ser o próprio repórter, certo? Certo: eu tenho uma história e – depois de muito refletir - decidi contá-la. O ano era 1998 ou 1999, e eu trabalhava no time da comunicação social da prefeitura de Curitiba. Invariavelmente, ao entrar no banheiro da redação, escutava alguém folheando um jornal dentro de um dos cubículos. “Flip... flip....” Nada mais típico, principalmente em um meio que aproxima publicações de uma multidão de office-boys, contínuos, motoristas e outros agregados com muito tempo livre. Era, apenas e tão somente, uma prática consagrada pela malandragem e abençoada pela crença no poder transformador das letras.

Manhã de domingo, dia de plantão na comunicação social. Minha assinatura era a única a constar da odiada “lista de presença”. Marasmo total. Como único vivente a circular pela repartição (e, provavelmente, pelo prédio), resolvi pegar um jornal e – por que não? - me dirigir ao sanitário. Assim que entrei no banheiro, meus ouvidos foram imediatamente chicoteados pelo mantra: “flip... flip”. Chocado, decidi descumprir o “contrato social de banheiro” e olhar para o
vão sob as portas, buscando o par de tênis de alguém que deveria estar a anos-luz dali. Secretamente, eu sabia que não havia ninguém lá – e, é claro, não havia. Mesmo assim, o ectoplasmático jornal continuava a ser lido com a mais absoluta serenidade. Deixei o banheiro na mesma hora, assolado, dali por diante, pela eterna lembrança de um fantasma cagão.


Texto originalmente publicado na edição #12 de Curitiba Deluxe

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