sexta-feira, 22 de abril de 2011

Drama no Guadalupe

Por E.B.J
(em 03/10/2005)
 

Lourival achava que nunca aconteceria. Estava certo de que sua astúcia era suficiente para enganar Arlete, a oficial, pois, por anos a fio, tinha sido assim. Era sábado de chuva e frio, daqueles típicos de final de semana em Curitiba, quando a casa caiu. 

Foi um bafafá no terminal do Guadalupe, vexame mesmo. "Eu estava te sondando faz tempo, negão", dizia Arlete, entre tapas e caneladas desferidas vigorosamente no concubino, que tentava acalmá-la, mas sem dizer palavra alguma. "Tá viajando? Tá viajando? ", ela gritava, bem em frente ao módulo da PM, onde certamente os policiais acharam melhor não intervir em briga de casal.


Não se sabe se foi a vergonha do escracho público, de ser apanhado com a boca na botija, ou se era efeito da marvada mesmo, mas o fato é que Lourival preferiu apanhar quieto, mesmo tomando sopapos da amásia e batendo a cabeça no telefone público, que também foi vítima da fúria da patroa.

O povo, como sempre, tratou de prestar atenção, porque no terminal é todo dia a mesma coisa. Então, quando acontece algo fora do normal, muitos correm para assuntar. Foi o que fizemos, até um pouco atrasados, porque perdemos os primeiros lances da bagaça. Vimos só o final, para dizer a verdade, mas foi suficiente para relembrar velhas regras. O erro foi grave, afinal lugar público é o que o nome diz, público. Adalice, a outra, dava um mole há tempos para o negão, que, cheio de vigor, decidiu aproveitar.

O sururu prosseguiu pelas quadras adjacentes ao Guadalupe, sob os olhares atentos de uma turma de desocupados, que já tinha a versão pronta para o fato. "Ela é mulher direita, o negão que é safado", diz um dos ambulantes, que é logo atravessado por outro: "Mulher direita, você só acredita nisso porque é crente".

Mas, como bem lembrou nosso arguto observador Tatá, nem só de espetáculo foi o dia: encolhida num banco, a filha de Arlete era consolada pela avó. Carina, a menina, não era filha de Lourival (era branquinha demais para isso), mas tinha carinho pelo bruto.

Moral: o amor é mais esperto do que a mentira.

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