quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Viagem Fantástica

A temática dos "itinerários extraordinários" é clássica dentro da literatura fantástica. Ela está presente em muitas obras, dentre as quais podemos citar - rápida lembrança - a "Odisséia", a "Divina Comédia", "Cândido", "As Viagens de Gulliver" e "O Relato de Arthur Gordon Pyn". Em tempos recentes ganhou outros contornos, einstenianos, relacionados ao chegar e a ao não-chegar. Como explicar, por exemplo, lugares banais - a padaria da esquina, por exemplo - onde você não pode entrar? E se você for ao banheiro e nunca mais sair? Ou ainda chegadas rápidas, estranhas, replays fantásticos da fábula de Esopo sobre a tartaruga e a lebre? Se bem me lembro, há uma história curta sobre isso, em que o protagonista é uma motorista fascinada pela possibilidade de descobrir atalhos. Os junguianos se referem à "jornada do herói", que tem em Parsifal e em Telêmaco seus modelos clássicos. O assunto é, de fato, maravilhoso, inesgotável como os caminhos que trilhamos a cada dia (ainda que sejam de casa para o trabalho). Muito bem: na manhã desta quinta-feira, ao circular por uma Curitiba invernal, pensei nesta possibilidade. Eu me dirigia ao escritório quando, estranhamente, me dei conta de que poderia não chegar. Nenhuma premonição, sensação de morte ou desejo secreto de trocar o trabalho por uma vida de bardo guerreiro. Apenas a sensação fugaz de que, mesmo tentando, jamais chegaria lá. Rodaria indefinidamente, até a gasolina acabar, sem tocar a "terra santa" na intersecção das ruas João Negrão e Visconde de Guarapuava. Pois bem: em poucos minutos, apesar da fantasia, estava lá. Felizmente ou infelizmente, não sei, não me atrevo a pensar. Só me questiono se, na simples elucubração extraordinária, não vivi - ainda que por segundos - essa situação fantástica. Como cheguei ao tema? Seria um daemon, uma arcana imagem evocativa oculta em um prosaico outdoor? Ou o quê? Não sei. Sigo pernas, olhos e espírito - sigo sonho.
R.W.Apolloni

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